Pare
por um instante. Feche os olhos e inspire profundamente. Antes de soltar o ar,
reflita: quem seria eu, sem medo? Se não tivesse a minha mente, bicho
selvagem à anos luz de ser domesticado, a reger a minha vida com estas
imagens assustadoras de todas as coisas terríveis que podem me acontecer se eu
ousar sair da zona de conforto?Medo. Penso ser ele, o medo, o oposto de amor –
e não ódio, como muitos acreditam. Pois o amor, ah! O amor é um SIM gigante
gritado a plenos pulmões na direção do mundo! Quando estamos amando tudo nos
parece ser possível e válido; não é assim? Lembre-se da última vez que você
amou alguém ou alguma coisa. Pense nesta situação, lembre-se de como você se
sentiu: expresse, com seu corpo, este estado interno. Eu não consigo te ver
neste momento, mas aposto que existe aí, na sua postura, um peito aberto,
ombros afastados, cabeça erguida. Não tem? Existe um senso de verticalidade, de
presença, de consciência únicos. Se não for esta a manifestação mais verdadeira
de alguém que diz SIM, não sei o que mais poderia ser. Quem ama, diz sim ao
mundo.
O medo
não conhece outra palavra a não ser NÃO. O medo é um não, o mais definitivo
não: “não quero que isso aconteça, não quero que aquilo aconteça, não
posso sentir isso, ou aquilo!”. O não tem muito medo escondido entre suas
três letrinhas: braços cruzados, costas encolhidas, peito fechado, queixo
baixo. Coração totalmente defendido, recluso para o mundo, em uma infindável
busca de proteção de todos os riscos inerentes à vida.
Imagens
terríveis são projetadas em nossas mentes quando sentimos medo. Sempre as
piores possíveis, carregadas de sofrimento, lágrimas e dores intermináveis.
“Não, não vá por aí, não arrisque, fique onde está! Aqui você está seguro, não
vê? Aqui você está vivo, respirando”, te diz a mente. E, de fato: se você ficar
onde está neste momento, agindo como vem agindo nos últimos tempos, irá obter
exatamente as mesmas coisas. Sim, você está respirando. Mas será que está vivo?
Uma vez
uma pessoa me perguntou: “Qual é a hora de mudar? De criar coragem para sair da
zona de conforto?”. Eu respondi: a hora em que o conforto se transforma em
desconforto – a hora em que a situação na qual você está não te encanta e que a
única coisa que te segura no lugar é o medo; a hora em que você percebe que não
vem vivendo, e sim sobrevivendo. Porque em minhas andanças por este mundo, o
que mais conheci foi gente que morreu aos 20 anos e foi enterrada aos 80.
Imagine
uma árvore completamente ressecada, sem frutos ou folhas; imagine esta árvore,
praticamente morta. Agora imagine que, além de completamente ressecada, ela
está absolutamente apavorada. Ela começa a sentir uma brisa mais quente,
batendo do oeste. Ela está acostumada com o ar gélido e cortante, e esta brisa
quente e macia a assusta. O que ela não faz idéia é que, junto com a brisa
morna, também virão os insetos, e o prenúncio da primavera. Com a brisa quente
e os insetos virá a promessa de nova vida, todas as flores e folhas e frutos
dos quais ela tanto sente falta. Esta imagem lhe parece ridícula? E o quanto
você acha que é realmente diferente disso?
Solte o
ar. Abra os olhos. O contentamento pode estar ali, dobrando aquela esquina.
Basta apenas que você se dê conta de que possui pernas para ir até lá.
Flávia Melissa
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